segunda-feira, 17 de março de 2008

As coisas estavam nesse pé quando a Helade foi sacudida pelo verbo impetuoso do filho de Fenarete.

Impulsionado por uma força inconsciente emanada de sí mesmo e cognominada daímon, poz-se Sócrates a denunciar as mazelas do politeismo.

Segundo argumentava "Não pode haver dois deuses pois um limitaria o outro perfazendo dois seres limitados, Deus deve ser necessariamente ilimitado, logo um."

Tão claro, simples e meriadiano esse raciocínio que impõe-se a todos os homens. Os antigos gregos porém ficaram exasperados diante dele a ponto de dois sacerdotes Anito e Melito, acusarem o ilustre filósofo de corruptor da juventude e introdutor de divindades estrangeiras.

Certamente que ao aludir a divindades estrangeiras os 'piedosos' sacerdotes tinham em mente Ahura Mazda, o Deus invisivel dos persas, seus inimigos figadais o que deve ter excitado os animos dos atenienses, cuja cidade havia sido posta a saque pelo grande rei Xerxes, a cerca de oitenta anos!

Arrastado ao tribunal religioso de Atenas, o aerópago Sócrates foi inquirido sobre seus ensinamentos e condenado a exilar-se ou a morrer, por diferença de um ou dois votos.

Tendo diante de si o testemunho imaculado da consciência o Filósofo preferiu sorver a taça e enfrentar a morte que fugir, o que segundo ele equivaleria a reconhecer uma culpa que não tinha.

Aos setenta anos de idade Sócrates entrou na eternidade rodeado por seus amados discípulos e mereceu doutro filósofo este elogio: "Se a morte de Sócrates equivale a morte do maior de todos os homens, a morte de Cristo quivale certamente a morte de um Deus."

Tendo Sócrates saido de cena, poz-se a brilhar no céu da filosofia o astro de Aristagoras, se discípulo predileto e mais conhecido por Platão devido a amplitude de seus ombros.

Platão levou adiante as idéias de seu mestre sobre a unidade da natureza divina e ampliou-a sob diversos aspectos dando origem ao ramo da Filosofia que ora chamamos de teodicéa ou justificação racional da natureza divina. Esta sua abordagem encontra-se dispersa nas várias obras de sua lavra, todas em forma de diálogos versando sobre diversos assuntos. Não se trata pois duma abordagem sistematiza, tal e qual foi encetada por seu discípulo Aristóteles.

Aristóteles, filho de Nicômaco, médico grego a serviço do rei da Macedônia nasceu, cerca de 485 a C na cidade de Estagira, situada naquele país considerado bárbaro pelos gregos.

Consciente quanto aos dotes intelectuais de seu filho Nicômaco julgou por bem envia-lo a Atenas, onde matriculou-se na Acadêmia, ouvindo as lições de Platão. E suas reflexões eram tão sábias e judiciosas que o mestre não tardou a apelida-lo de "A inteligência" da acadêmia.

Apesar disso, antes de morrer, Platão entregou as rédeas de seu instituto a um seu parente de nome Xenócrates. Diante de tamanha ingratidão nosso filósofo afastou-se da acadêmia e transferiu-se para junto de seu amigo Hermes, soberano de Atarnéia, vindo inclusive a casar-se com uma de suas filhas.

Tendo esse Hermes sido deposto do trono e executado, Aristoteles regressou a Atenas onde fundou sua própria escola o Liceu. Tendo um de seus ex companheiros de academia lhe perguntado se não era mais amigo de Platão, respondeu-lhe com este dito imortal: Sim amigo de Platão, mas certamente, muito mais amigo da verdade.

Entrementes o Estagirita recebeu uma carta do rei Filipe II da Macedônia, o qual através dela convidava-o para assumir a educação de seu filho o futuro Alexandre III, vencedor de Granico, Issus e Gaugamela. Eis um dos trechos da carta: "Sou feliz por ter gerado um filho e mais feliz ainda porque esse filho vive enquanto tu vives!"

Assim sendo o lógico dirigiu por cerca de três anos os estudos do grande conquistador macedônico. Ainda no fim de seus amargurados dias Alexandre costumava dizer: "Amo a meu pai Filipe porque me comunicou a vida corpórea e a Aristóteles meu mestre porque comunicou-me a vida da alma."

Encerrrada sua régia incumbência Aristóteles retornou ao Líceu para não mais afastar-se dele e dedicou cada um de seus últimos dias a reflexão filosófica, reflexão de que surgiu a teoria realista.

Segundo essa teoria os conceitos ou idéias realizam-se nos elementos ou seres materiais de modo que ambas as realidades: material e imaterial coexistem num mesmo universo formando uma unidade substancial.

Entre seus trabalhos o sábio costumava exclamar: ais a ciência, suas raízes são amargas mas seus pômos são doces.

Além de escrever sobre epistemologia Aristoteles escreveu sobre Lógica, ética, Psicologia, Política, direito, medicina, música, matemática, astronomia, zoologia, botânica, minerologia, poética, etc merecendo a fama de gênio universal.

Sem embargo, seus inimigos estavam a espreita, aguardando o surgimento da primeira oportunidade para molesta-lo e esta surgiu por ocasião da morte de Alexandre o grande em 223 a C. Cientes quanto a morte do conquistador os atenienses deram mostras imediatas quanto a seus sentimentos anti-macedônicos. Uma dessas mostras foi a citação do Peripato pelo aerópago sob a acusação de asebéia ou impiedade...

Diante de tamanho perigo nada restou ao velho sábio senão fugir na calada da noite para Calcis na ilha de Eubéia. E nesta cidade veio a entreguar sua alma no ano seguinte vitimado por uma cólica visicular.

Foi Aristoteles que sistematizou e desenvolveu a teodicéa de seu mestre Platão, elencando as cinco provas que concernem a existência do Ser Supremo.

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