domingo, 9 de março de 2008

Evolução do pensamento teista no contexto religioso.

Todos os fenômenos são regidos por uma lei necessária e constante que é a lei da evolução.

Conforme esse paradigma todas as formas de existência tendem a passar do mais simples ao mais complexo.

E de estádio a estádio vão se tornando perfeitas em seu gênero.

Somente uma forma de existência não esta sujeita a esse fluxo universal: a existência divina.

Em plena posse de sua perfeição Deus possui em si mesmo todos os bens e nada lhe falta.

Ele é o único Ser imutável, ato puro e primeiro impulso de todos os seres.

Nem por isso a idéia que os homens dele fazem corresponde a essa imutabilidade e expressa essa perfeição suprema.

Idéia humana - enquanto concebida pelo homem e sugeita a precariedade do nosso aparelho cognitivo - também a idéia de Deus esta sugeita a evoluir...

Também ela vai se purificando de gráu em gráu e se aproximando pouco a pouco da realidade que pretende expressar.

O ato da consciência humana apossar-se do conhecimento divino não ocorreu magicamente, da noite para o dia, mas lentamente, no decorrer de milhares e milhares de anos.

Durante todo esse tempo as concepções mais grosseiras e indignas foram sendo substituidas por outras tanto mais elaboradas e dignas do Ser Supremo, até que estas também tiveram de ceder lugar a novas concepções, tanto mais sutis e aprimoradas...

Ingreme e sinuoso foi o caminho trilhado pela consciência humana, antes que esgotasse todos os seus recursos e tivesse de ser socorrida pela divindade.

A princípio, quando os homens viviam isolados e pequenos grupos de caçadores coletores, a idéia de Deus devia ser sumamente simples: um Criador ou artífice que manipulava as forças da natureza a seu bel prazer, mas que podia ser "aplacado" ou comprado por meio de rituais...

Mas como essa idéia, tão elevada, teria emergido na consciência humana?

A nosso ver a idéia de um Criador ou artífice divino foi a primeira abstração a emergir no intelecto de nossos mais remotos antepassados...

Segundo certos ideólogos a idéia de Deus seria incompátivel com a simplicidade da vida primitiva, prescindindo de certo desenvolvimento material e técnológico para vir a ser.

Grosso modo podemos dizer que a única condição necessária para que a consciência humana apreendesse a noção de um Artífice divino é a noção de artífice.

Ou seja a perpecção de ser ele mesmo, um faber ou fazedor de coisas.

É justamente essa produção material de cultura ou essa atividade de artífice que lho caracteriza como Homo... como Homo faber, ou seja como homem que faz, que produz cultura e que produzindo cultura se humaniza.

Foi esse domínio adquirido sobre a matéria, domínio que lhe permitiu dar-lhe novos contornos, formas e funções, que serviu como ponto de partida para o lento processo de hominização.

Se considerar-mos ao menos a possibilidade de que nossos ancestrais mais remotos - os que encetaram a produção material de cultura - eram perfeitamente capazes de reconhecer os objetos que produziam, somos forçados a concluir que também eram perfeitamente capazes de reconhecer aqueles objetos que porventura fossem produzidos e abandonados por seus semelhantes.

Quero dizer com isso que tão logo percebeu-se a si mesmo como produtor de cultura pode reconhecer a presença de seus ancestrais ou irmãos numa certa região, pelos vestigios culturais nela encontrados. A percepção de objetos ou de restos de cultura material levou nossos antepassados a conclusão de que os sítios em que esses objetos foram encontrados havia sido habitada ou visitada por outros membros de sua espécie.

O que os excrementos, pelos e penas, enfim os vestígios naturais uma presa, significam para um predador qualquer, a cultura material passou a significar para seu produtor: um vestígio inequívoco quanto a presença da espécie num determinado local.

Foi desse raciocínio tão simples, que por analogia, levou o homem a inferir sobre a existência de um autor ou artifíce divino do universo.

Tal e qual não podia passar por sua mente "primitiva" que os vestígios de cultura material com que se deparava no decurso de suas "explorações" fossem eternos ou que tivessem feito a sí mesmos, nosso rude antepassado não podia admitir que as estrelas, o firmamento ou a terra em que habitava fossem eternos ou que tivessem dado origem a si mesmos... donde foi levado a concluir, necessáriamente - por necessidade lógica! - a favor da existência dum artífice ou criador divino.

É possivel que essa constatação tão simples tenha sido feita a mais de um milhão de anos, seja como for trata-se duma constatação tão lógica que ainda não pôde ser substituida por outra melhor... trata-se duma concepção, que, mais do que todas as outras tem enfrentado e vencido a maior de todas as provas com que as idéias são provadas: a prova do tempo. Talvez se trate, simultaneamente de mais antiga e da mais atual de todas as idéias concebidas por nosso aparelho cognitivo.

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