domingo, 9 de março de 2008

Seja como for a crítica Bíblica parece indicar que os descendentes de Abraão sem negar a existência de outras divindades - cultuadas pelos outros povos - cultuavam exclusivamente a entidade espiritual concebida por Abraão e a qual designavam por El, Elion, Shaddai, etc

Ao que tudo indica os primeiros hapiru eram henoteistas, adeptos não do monoteismo propriamente dito, mas duma categoria de trasição entre o politeismo e o monoteismo, a monolatria.

O monoteismo, tal e qual lho concebemos, parece ter sido codificado primeiramente no Egito cerca do século XIV a C durante o reinado de Amenofis IV, o célebre Iknaton. Alguns textos inscritos nas antigas pirâmides parecem apontar-nos uma tradição bastante antiga, quiçá restabelecida pelo filho de Teje com fins meramente políticos: diminuir a influência do todo poderoso clero de Amon, divindade oriunda de Tebas, a capital do Novo império.

Que uma certa tendência vaga para o monoteismo sempre estivera presente na mentalidade egipcia, testifica esta passagem do papiro de Berlim: "Ele plasmou todos os deuses, animais e homens, todos os países ele criou e o Oceano que lhos cerca, por isso seu nome é Criador do universo."

Logo de inicio os sacerdotes egipcios, radicados na metrópole de Heliopolis relacionaram esse Artífice supremo com o disco solar. Afinal que outra criatura seria capaz de representar com mais propriedade o Ser divino que o astro rei, fóco de luz e centro do nosso sistema solar?

Já porque dele todos os seres vivos recebem o calor indispensável a existência...

A essa figuração solar da divindade os egipcios deram o Nome de Rá.

Certamente que o mesmo processo de unificação territorial acima apontado concorreu para lançar a confusão entre os espíritos e insinuar a existência de diversas entidades rivais. Já porque se trata-se do mesmo Deus único nomeado de maneira diversa por cada povo, já porque os símbolos ou emblemas totêmicos de cada nomo passasse a ser atribuida uma existência real e a parte do ser simbolizado, já porque os falecidos - em especial os reis - passassem a ser considerados, primeiramente ministros e enfim substitutos da divindade, o número de divindades tornou-se tão elevado quanto na mesopotâmia. Mas, apesar desse aluvião de deuses e deusas o alto clero egipcio sempre conservou latente, uma certa tendência para o monoteismo original.

O próprio Amon de Tebas, divindade tutelar do Novo Império, foi em diversas ocasiões apresentado como sendo o Pai, Criador e rei de todas as demais divindades, no caso emanações ou criaturas suas.

Mas foi o filho de Amenofis III, o quarto faraó desse nome quem de fato sistematizou esse tipo de pensamento, claramente monoteista.

Pela primeira vez na História da humanidade foi afirmada, categoricamente, a doutrina de um Deus, imaterial e invisivel, onipresente, pai e mãe da humanidade e amante de suas criaturas.

Pois para o jovem Faraó Rá Arakte ou Aten não era um deus tutelar do Egito e criador exclusivo de seus habitantes. Para aquele que se fez chamar Iknaten, Aten era o Criador de todo universo e Deus de todos os povos e nações da terra, doutrina farta de consequências éticas, como a fraternidade universal.

Foi Iknaten que pela primeira vez lançou as sementes do pensamento católico ou universal no torvelinho da História humana... mil e trezentos anos antes de Cristo.

Vejamos agora como ele expressou esse pensamento tão lúcido em seu "Hino a Aten":

"Deus único com poderes singulares.
Criastes a terra conforme tua vontade.
Tú, apenas tu.
Os homens e os aminais que caminham sobre a terra...
Os países estrageiros, a Síria, a Núbia,
e a terra do Egito...
Maravilhosos são os teus designios
Tu és o Senhor da Eternidade...
O universo jaz na tua mão,
Tu mesmo lho plasmaste."

Impulsionado seja pela razão de Estado seja por um zelo não muito esclarecido, Iknaten, probibiu o culto das divindades mortas, ordenou a destruição dos simulacros e privou os sacerdotes de suas regalias, mergulhando o país num clima de revolta sem precedentes.

Ao que parece conseguiu grangear um o apoio de certa parcela da população, quiçá entre os mais humildes sob os quais pesava - mais do que sobre quaisquer outros - a mão dos sacerdotes, mas, mesmo assim, teve de mandar construir uma nova capital para si em Amarna.

A força de anatemas, excomunhões, pragas e outras quejandas o clero de Amon foi retomando gradativamente todas as suas prerrogativas tradiconais e isolando o rei "herético" em sua cidade, na qual em meio as maiores angústias veio a falecer, quiçá envenenado por iniciativa dos líderes religiosos, os quais, rapidamente retomaram o controle da situação.

A maioria dos adeptos do novo culto foi pura e simplesmente massacrada enquanto o novo Faraó Tutancamon - antes Tutancaten - reconciliava-se com os padres de Amon e restabelecia oficialmente seus privilegios, merecendo após a morte um féretro dos mais pomposos.

Uma dezena de anos depois o novo Faraó Homreheb, antigo general de Iknaten recém subido ao trono do Egito, vibrou o golpe de misericórdia sobre o culto de Aten, determinando que seus seguidores fossem supliciados como heréticos. Foi assim, que a inquisição politeista deu cabo dã antiquíssima tradição monoteista, presente no Egito desde as primeiras dinástias.

Desde então o culto aos animais divinos passou a tomar cada vez mais impulso até que todo o país se viu dominado pela zoolatria.

A ponto de Luciano se expressar desta forma: "Adentrais em seus suntosos pórticos, no recondito de seus templos, e vos deparais com centenas de sacerdotes em fervorosa adoração, diante dum magestoso escrínio, e por trás desse escrínio vos deparais com cortinas de seda e brocado, e quando as afastais para poder contemplar o deus vos deparais com uma serpente ou um babuino."

Efetivamente é assim: silenciada a vós divina da razão, só resta ao homem, abraçar tudo quanto há de mais grosseiro e tosco sob a face da terra...

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