segunda-feira, 10 de março de 2008

Segundo cremos o profetismo assinala as culminâncias supremas do pensamento religioso israelita.

Qual Lázaro redivivo se desprendeu das faixas que lho envolviam, o monoteismo hebraico, sob a tutela do profetismo, desprendeu-se gradativamente das limitações morais que lho obscureciam.

Pois daquele deus egoista e centrado em si mesmo que disputava com o infeliz Jó, passou o pensamento monoteista a concepção de um Deus voltado para fora de sí mesmo, de um Deus que é benfeitor, magnânimo, filantropo, amigo enfim do gênero humano.

De um Deus que sendo sumamente feliz pela contemplação de sí mesmo não tem outra necessidade além de partilhar essa contemplação com todos os seres que chama a existência e que por assim dizer chama para glorificar.

O dia em que o profeta pode exclamar jubiloso: Esquecei a arca do pacto! Constitui um marco na História religiosa do povo de israel, pois significa em última analise uma ruptura com o fetichismo e o ritualismo até então dominantes.

Apóstolos duma transcendência absoluta que exclui qualquer possibilidade de representação, os profetas hebreu, proclamam uma verdadeira cruzada contra a idolatria e sob o reinado de Josias promovem a destruição de todos os fetiches, sob esse aspecto eles já nos fazem antever o iconoclasticismo maometano.

Pois nem tudo são rosas e os significativos progressos feitos nesse período não são capazes de excluir de todo alguns nuances sombrios, nuances que teem atravessado os séculos até nossos dias. Refiro-me ao exclusivismo e a intolerância religiosa... Alguem chegou a escrever que esse defeito constitui o pecado original de todos os monoteismos e que os monoteismos são todos intolerantes por natureza.

Talvez por isso o monoteismo não tenha tido para Jesus de Nazaré essa significação obcessiva que sempre teve para os hebreus, maometanos e cristaõs nominais. Certamente que Jesus afirmou o monoteismo, mas não permitiu que sua pregação fosse totalmente absorvida por ele e que o Cristianismo ficasse restrito a questão da quantidade divina...

Pois se a um tempo os profetas vindicam o espírito católico acolhendo os gentios no seio do jeovismo, é necessário deixar bem claro que o gentio só é encarado como ser humano tendo-se em conta sua adesão ao Deus único. Ainda não é possivel falar numa dignidade inerente a natureza ou a condição humana pois é pela profissão de fé que o homem torna-se digno ou melhor humano.

Pelo uso indevido ou abuso de sua liberdade pessoal, expresso no culto as divindades falsas o pagão deixa automaticamente de pertencer ao gênero humano e como tal fica votado a destruição.

A aplicação de tais princípios é rigorosamente observada por todos os antigos profetas, pois se Elias ao defender Nabot contra Acab se põe a frente de seu tempo não exita em imolar os quatrocentos sacerdotes de Baal... Eliseu por sua vez, o mesmo Eliseu que pondo-se a frente de seu tempo obrigou o rei de Israel perdoar os oficíais de Ben Adad, esse mesmo Eliseu envolve-se numa conjuração responsável pela destituição e pela morte de Jezabel...

Ao invés de suscitar sentimentos de compaixão e de misericórdia pelos ignorantes e transviados o monoteismo profético inspirou apenas rancores, tal como inspiraria a Maomé e aos reformadores protestantes nos tempos futuros...

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